sexta-feira, 15 de julho de 2022

PATATIVA DO ASSARE - O POETA DA ROCA


 
 
PATATIVA DO ASSARÉ - O POETA DA ROÇA
 
Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana  é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío.

Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestré, ou errante cantô
Que véve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.

Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,
E o fio de pobre não pode estudá.

Meu verso rastéro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso so entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão. [Meu sertão]

Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.

Eu canto o cabôco com suas caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.

Eu canto o vaquêro vestido de côro,
Brigando com o tôro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.

Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.

E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.
 
 
OBS.: Patativa do Assaré era analfabeto (sua filha é quem escrevia o que ele ditava), sua obra atravessou o oceano e se tornou conhecida na Europa.

ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto cá:
Filosofia de um trovador nordestino. 2. Ed. Petrópolis: Vozes, 1978.



Atividade

01. O que mais chamou a sua atenção nessa canção?

02. Qual é o ambiente inspirador do poeta?

03. Há diversas palavras no texto associadas ao universo da roça, do sertão. Cite algumas.

04. O nome do poema é “O poeta da roça”. O eu poético do texto é alguém que fala da vida na roça ou é alguém que faz parte dela? Comprove sua resposta com versos do poema.

05. Qual é a atividade profissional desse eu poético?

06. O eu poético define a sua pessoa, o seu jeito de ser poeta, com estas expressões: “Sou fio da mata, cantô da mão grossa”, “Sou poeta das brenha”. Copie no caderno a afirmativa que traduz o que o poeta expressa com esses versos.
a) Ele é um homem simples que não sabe cantar.
b) Ele é apenas um trabalhador rural.
c) Ele é um poeta simples, do campo, da roça.

07. O poema retrata a roça como um lugar com dificuldades próprias. Localize e transcreva um verso que comprove essa afirmação.

08. Há uma estrofe em que o poeta fala de seres maravilhosos e encantatórios, próprios da crendice popular. Copie-a em seu caderno.
 
09. O eu poético só “canta” coisas belas, corajosas, heroicas? Comprove sua resposta.

10. O eu poético está feliz no lugar onde vive?

11. Quem fala, no poema, diz-se um poeta conhecido além da roça e do sertão? Copie os versos que justificam a sua resposta.

12. Analisando os versos:

Meu verso rastéro, singelo e sem graça
Não entra na praça,no rico salão
[...] só entra no campo e na roça.



RESPOSTAS:

01. Resposta pessoal.

02. A roça.

03. “mata”, “cigarro de páia”, “paioça”, “eito”, “vaquêro”, “toro”, “novio”, etc.

04. É alguém que faz parte dela. “sou fio das mata, cantô da mão grossa, / Trabáio na roça, de inverno e de estio”.

05. Ele é lavrador, roceiro, trabalhador rural.

06. Letra C

07. “[...] o buliço da vida apertada, / Da lida pesada, [...]”

08. “Eu canto o caboco com suas caçada, / Nas noite assombrada que tudo apavora, / Por dentro da mata, com tanta coragem / Topando as visage chamada caipora”.

09. Não. Ele também fala da miséria e da fome, como nos versos: “Eu canto o mendigo de sujo farrapo, / Coberto de trapo e mochila na mão, / Que chora pedindo o socorro dos home, / E tomba de fome, sem casa e sem pão”.

10. Sim, na última estrofe ele diz que vive “contente e feliz com a sorte”.

11. Não. Ele diz: “Meu verso só entra no campo e na roça / Nas pobre paioça, da serra ao sertão.”

12. Percebemos que são versos simples, mas seguem a mesma métrica e fazem pouco uso de figuras de linguagem, o que facilita o entendimento do interlocutor, pois não tem vocabulário rebuscado, ele é genuinamente caipira o que facilita a compreensão no campo e na roça. Por isso, ele não entra na praça, no rico salão, é um estilo simples, porém poético.
 
 
 
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