domingo, 13 de maio de 2007

SÉRGIO RICARDO

Sérgio Ricardo 1973
As lutas pelo restabelecimento das liberdades democráticas no Brasil se acirraram a partir da decretação do Ato Institucional Nº 5 em dezembro de 1968. Até esta data havia um crescente inconformismo diante da inflexibilidade dos governos militares em propor uma volta ao estado de direito. Sob a guarda da censura, jornais, revistas, artistas, músicos e intelectuais de todos os gêneros e opiniões tinham suas vozes permanentemente ceifadas ou proibidas mesmo, sob o argumento vil de que conspiravam contra a ordem vigente. Eram portanto, elementos nocivos ao regime e tachados de subversivos ou comunistas. Era uma realidade muito difícil, pois era insuportável conviver com um controle paranóico de idéias onde qualquer cidadão era suspeito pelo simples fato de expor seus pensamentos, principalmente se eles fossem contra o atual quadro político em que vivíamos. Nesse aspecto surgiu no Brasil um grupo de homens livres que se entregaram numa cruzada de resistência ideológica e fizeram disso uma bandeira de luta, mesmo sabendo dos riscos que corriam, porém, valia a pena o enfrentamento, até porque lutar pela liberdade é um ato heróico e cívico, além é claro de ser um dos princípios fundamentais da humanidade. No campo especifico da música popular é do conhecimento de todos as perseguições enfrentadas por compositores como Chico Buarque, Geraldo Vandré, Taiguara e muitos outros que lutavam contra o arbítrio que imperava no Departamento Nacional de Censura, órgão oficial do governo com autonomia para monitorar a produção intelectual do país. Apesar de todas as dificuldades era necessário não se deixar esmorecer, fraquejar naquele momento seria desastroso e um ato de covardia diante da pátria e do que ela significava para cada um de nós. No meio desse tiroteio alguns nomes se destacavam, e alem dos já citados um se fez vibrante, inconformado, realista e determinado, era o paulista Sergio Ricardo. Construindo sua carreira de cantor, compositor e cineasta desde os anos cinqüenta, foi um dos mais duros e competentes combatentes da ditadura durante a década de sessenta. Nunca se deixou levar por ilusões, sabia e percebia perfeitamente o que se preparava para o país a partir de março de 1964. Desde cedo pode verificar a virulência dos conspiradores e sua intenção de instaurar no Brasil um regime de força, onde liberdade era uma palavra inexistente sendo substituída no vocabulário dos donos do poder por arbítrio. Perseguido implacavelmente Sergio Ricardo foi seguindo seu caminho, e suas canções demonstravam a sua capacidade de resistência alem de criarem uma parte significativa da trilha sonora dos anos de chumbo. Um exemplo dessa síntese de lutas musicais e poéticas esta bem delineado no seu melhor trabalho realizado em 1973, um LP que traz em seu repertório as mais engajadas canções de sua autoria e que são um marco representativo do pensamento radical de um artista que denunciava um dos períodos mais desastrosos da vida brasileira. O disco que leva seu nome tem na capa dupla o seu retrato quando enfrentava as vaias do público no III Festival da Canção Popular da TV Record de 1967 quando interpretava a canção Beto bom de Bola, resultando em sua revolta jogando o violão na platéia, vem com uma tarja branca na sua boca, que sai carregada pelo símbolo da censura criado pelo cartunista Caulos, e depois se senta num banquinho com ela na posição de um atento ouvinte das musicas cujas letras são abertas em leque. A maioria das canções do disco são dos anos sessenta, e algumas estavam vetadas pela censura, mas eram exaustivamente cantadas por Sergio Ricardo em seus shows. Dentre eles destacam-se Calabouço feita em 1968 no calor dos acontecimentos que resultaram na morte do estudante Edson Luiz no restaurante universitário do mesmo nome; Sina de Lampião, é um retrato das ilusões perdidas de um povo sofrido, humilhado e sem perspectivas; Antonio das Mortes, em parceria com Glauber Rocha fez parte da trilha sonora do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol; Canto americano, reflete a esperança de uma América Latina livre, numa época em que o continente estava mergulhado em sangrentas ditaduras; Vou renovar, é uma embolada bem humorada cuja letra sempre era modificada por Sergio Ricardo a depender da ocasião, no disco ela nos remete a uma idealização de uma sociedade sem distinção de classes e sofreu vetos da censura tendo que substituir a palavra comunista por colunista Em Semente, e Beira do cais, temos duas canções com um discurso lírico, sensual e resistente; Juliana do amor perdido, a única peça instrumental do LP traz influencias armoriais nordestinas, barrocas, bem brasileiras. O disco se encerra com Tocaia onde o discurso panfletário metafórico se insinua de maneira contundente. Ao ouvirmos este trabalho de Sergio Ricardo verificamos que a história do Brasil pode também ser entendida e contextualizada através de belas canções, e que a briga por um país cada vez mais livre e democrático e com menos desigualdades sociais representam aspirações permanentes, não importa o tempo de luta, pois são atemporais, eternas. Luiz Américo Lisboa Junior Itabuna, 18 de novembro de 2004. Músicas: 01) Calabouço (Sergio Ricardo) 02) Deus de barro (Sergio Ricardo) 03) Semente (Sergio Ricardo) 04) Sina de Lampião (Sergio Ricardo) 05) Juliana do amor perdido (Sergio Ricardo) 06) Beira do cais (Sergio Ricardo) 07) Antonio das Mortes (Glauber e Rocha e Sergio Ricardo) 08) Canto americano (Sergio Ricardo) 09) Vou renovar (Sergio Ricardo) 10) Tocaia (Sergio Ricardo) Ficha Técnica Produção: Sergio Ricardo Mixagem: Luigi Hoffer Gravação: Somil Capa: Caulos Foto de Sergio Ricardo - Teatro Record 1967 Fotos da contra capa: Sergio Bernardo Sergio Ricardo: Voz, viola, violão e piano Piri: Viola, violão, rabeca e bandolim Cássio: Baixo elétrico e viola Franklim: Flauta doce e flauta em dó transversa Paulinho Camafeu: Percussão. www.luizamerico.com.br Luiz Américo Lisboa Junior Itabuna, 18 de novembro de 2004.

📻# CONVITE PARA OUVIR MAYSA No 2


Maysa Convite Para Ouvir Maysa Nº 2
1957


Após a segunda guerra mundial a Europa teria que ser reconstruída e o grande financiador dessa tarefa foram os Estados Unidos com o plano Marshal, enquanto isso o mundo entrava pouco depois nos anos cinqüenta com suas esperanças renovadas. Era um momento de retomadas em todos os campos da atividade, principalmente nas artes que iria traçar seus novos horizontes, porém antes que a transformações viessem, vivíamos uma espécie de entressafra, aquele período inicial que antecede as grandes mudanças.

No Brasil tivemos acontecimentos políticos desastrosos que tramavam um novo direcionamento para o nosso destino, o principal deles o suicídio do presidente Getúlio Vargas e depois as turbulências que resultariam no quase impedimento à posse de Juscelino Kubistchek no comando da nação dois anos depois em 1956. Como se diz no velho ditado popular, “depois da tempestade vem a bonança” e o Brasil bem como o restante do mundo ocidental caminhou para uma era de prosperidade econômica, social, política e cultural.

Vivíamos o auge dos programas de rádio em nosso país e a televisão já era uma realidade transformando hábitos e contribuindo para a ascensão da classe média que a cada instante fazia valer os seus valores e iria impô-los a sociedade. Nesse caldeirão de profundas transformações a música popular vivia um momento atípico, pois, víamos surgir a todo instante ídolos de massa, mas com um repertório que ficava muito a desejar se fossemos compará-lo com o que fora produzido nos anos trinta e quarenta. Era a tal fase de ajustes a que já nos referimos, ouvíamos boleros de todos os tipos, o jazz invadia as boates que se proliferavam com uma enorme intensidade, o carnaval com as suas marchinhas e sambas começam a perder terreno e a música de meio de ano, o chamado samba canção inicia sua mais fecunda trajetória, a cornitude esta na moda, os amores tristes e soturnos agora regados com um bom whisky invadem os lares e as casas noturnas, contudo, eles vêem acompanhados de um lirismo sentimental dos mais belos.

É nesse ambiente de mudanças que surgem alguns artistas que serão a cara desses tempos vulgarmente chamados de anos dourados. E entre esses personagens que vão marcar a nossa cena musical desponta uma cantora de voz grave e doce ao mesmo tempo, freqüentadora das mais altas rodas sociais, o hi society, deslumbrando o país com seus versos tristes e românticos acompanhados de lindas melodias, seu nome, Maysa Matarazzo que com sua música inesquecível e reveladora, irá se projetar em todo o país com o som melancólico de seu primeiro grande sucesso, “ouça vá viver a sua vida com outro bem..”, em 1956. A partir de então a moça da alta classe se torna uma cantora profissional e passa a gravar sistematicamente sempre alcançando elevados índices de popularidade e vendas de discos.

Em 1957 a gravadora RGE vendo o sucesso de sua nova contratada a quem havia apostado, lança no mercado o terceiro disco de Maysa, um LP intitulado Convite Para Ouvir Maysa nº 2, dando prosseguimento a uma série iniciada no ano anterior. Nesse disco a mais nova sensação da música popular brasileira desfila um repertório fabuloso de canções que se tornarão célebres, algumas de sua autoria, como por exemplo, Meu mundo caiu, clássico do cancioneiro trágico/lírico/romântico de nossa canção e outras que se eternizarão em sua interpretação, como, Bom dia tristeza, de Vinicius de Moraes e Adoniran Barbosa, Bronzes e cristais, de Alcyr Pires Vermelho e Nazareno de Brito, Por causa de voce, de Tom Jobim e Dolores Duran, Bouquet de Isabel, primeira música gravada de Sérgio Ricardo e Caminhos cruzados, de Tom Jobim.

Essas e outras músicas são acompanhadas pela orquestra RGE sob o comando do maestro Henrique Simonetti em arranjos monumentais, doces e maravilhosos, que soube como ninguém captar todo o sentimento que Maysa impôs as suas interpretações, deixando-nos por alguns momentos perplexos diante de tamanha entrega e sentimentalismo nostálgico embalando nossas alegrias, ternuras, dramas e tristezas. Ouvir Maysa, portanto, e ter o melhor da música romântica brasileira em nossas mãos e relembrá-la é um dever de gratidão a quem tanto contribuiu para a beleza da música popular de nosso país, portanto, deixo aqui este convite para ouvir Maysa a fim de elevarmos nosso estado de espírito para o que há de mais belo.

Músicas:

01 - Meu mundo caiu (Maysa Matarazzo)
02 - No meio da noite (Aloysio Figueiredo e J. M. da Costa)
03 - Bronzes e cristais (Alcyr Pires Vermelho e Nazareno de Brito)
04 - Por causa de voce (Tom Jobim e Dolores Duran)
05 - Bom dia tristeza (Vinicius de Moraes e Adoniran Barbosa)
06 - Felicidade infeliz (Maysa Matarazzo)
07 - Bouquet de Isabel (Sergio Ricardo)
08 - Mundo novo (Maysa Matarazzo)
09 - A chuva parou (Ribamar, E. P. da Silva e W. Barros)
10 - Caminhos cruzados (Tom Jobim)
11 - Meu sonho feliz (Nanai)
12 - Diplomacia (Maysa Matarazzo)


Ficha Técnica
Convite Para Ouvir Maysa Nº 2

Gravadora: RGE
Arranjos: Maestro Henrique Simonetti
Orquestra: RGE

www.luizamerico.com.br
Luiz Américo Lisboa Junior



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