terça-feira, 12 de março de 2019

MIA COUTO - COZINHAR NAO E SERVICO - COZINHAR E UM MODO DE AMAR OS OUTROS



Cozinhar não é serviço… Cozinhar é um modo de amar os outros.


A avó, a cidade e o semáforo

Quando ouviu dizer que eu ia à cidade, Vovó Ndzima emitiu as maiores suspeitas:

– E vai ficar em casa de quem?

– Fico no hotel, avó.

– Hotel? Mas é casa de quem?

Explicar, como? Ainda assim, ensaiei: de ninguém, ora. A velha fermentou nova desconfiança: uma casa de ninguém?

– Ou melhor, avó: é de quem paga – palavreei, para a tranquilizar.

Porém, só agravei – um lugar de quem paga? E que espíritos guardam uma casa como essa?

A mim me tinha cabido um premio do Ministério. Eu tinha sido o melhor professor rural. E o premio era visitar a grande cidade. Quando, em casa, anunciei a boa nova, a minha mais-velha não se impressionou com meu orgulho. E franziu a voz:

– E, lá, quem lhe faz o prato?
– Um cozinheiro, avó.
– Como se chama esse cozinheiro?

Ri, sem palavra. Mas, para ela, não havia riso, nem motivo. Cozinhar é o mais privado e arriscado ato. No alimento se coloca ternura ou ódio. Na panela se verte tempero ou veneno. Quem assegurava a pureza da peneira e do pilão? Como podia eu deixar essa tarefa, tão íntima, ficar em mão anônima? Nem pensar, nunca tal se viu, sujeitar-se a um cozinhador de que nem o rosto se conhece.

– Cozinhar não é serviço, meu neto – disse ela. – Cozinhar é um modo de amar os outros.
Ainda tentei desviar-me, ganhar uma distração. Mas as perguntas se somavam, sem fim.
– Lã, aquela gente tira água do poço?
– Ora, avô…
– Quero saber é se tiram todos do mesmo poço…

Poço, fogueira, esteira: o assunto pedia muita explicação. E divaguei, longo e lento. Que aquilo, lá, tudo era de outro fazer. Mas ela não arredou coração. Não ter família, lá na cidade, era coisa que não lhe cabia. A pessoa viaja é para ser esperado, do outro lado a mão de gente que é nossa, com nome e história. Como um laço que pede as duas pontas. Agora, eu dirigir-me para lugar incógnito onde se deslavavam os nomes! Para a avó, um país estrangeiro começa onde já não reconhecemos parente.

– Vai deitar em cama que uma qualquer lençol ou?

Na aldeia era simples: todos dormiam despidos, enrolados numa capulana ou numa manta conforme os climas. Mas lá, na cidade, o dormente vai para o sono todo vestido. E isso minha avó achava de mais. Não é nus que somos vulneráveis. Vestidos é que somos visitados pelas valoyi e ficamos à disposição dos seus intentos. Foi quando ela pediu. Eu que levasse uma moça da aldeia para me arrumar os preceitos do viver.

Leia também: Quando nosso cérebro escolhe não sentir para não sofrer

– Avó, nenhuma moça não existe.

Dia seguinte, penetrei na penumbra da cozinha, preparado para breve e sumária despedida, quando deparei com ela, bem sentada no meio do terreiro. Parecia estar entronada, a cadeira bem no centro do universo. Mostrou-me uns papéis.

– São os bilhetes.
– Que bilhetes?
– Eu vou consigo, meu neto.

Foi assim que me vi, acabrunhado, no velho autocarro. Engolíamos poeiras enquanto os alto-falantes espalhavam um roufenho ximandjemandje. A avó Ndzima, gordíssima, esparramada no assento, ia dormindo. No colo enorme, a avó transportava a cangarra com galinhas vivas. Antes de partir, ainda a tentara demover: ao menos fossem pouquitas as aves de criação.

– Poucas como? Se você mesmo disse que lá não semeiam capoeiras.

Quando entramos no hotel, a gerência não autorizou aquela invasão avícola. Todavia, a avó falou tanto e tão alto que lhe abriram alas pelos corredores. Depois de instalados, Ndzima desceu à cozinha. Não me quis como companhia. Demorou tempo de mais. Não poderia estar apenas a entregar os galináceos. Por fim, lá saiu. Vinha de sorriso:

– Pronto, já confirmei sobre o cozinheiro…
– Confirmou o quê, avó?
– Ele é da nossa terra, não há problema. Só falta conhecer quem faz a sua cama.
Aconteceu, depois. Chegado do Ministério, dei pela ausência da avó. Não estava no quarto, nem no hotel. Me urgenciei, aflito, pelas ruas no encalço dela. E deparei com o que viria a repetir-se todas tardes, a vovó Ndzima entre os mendigos, na esquina dos semáforos. Um aperto me minguou o coração: pedinte, a nossa mais-velha?! As luzes do semáforo me chicoteavam o rosto:

– Venha para casa, avó!
– Casa?!
– Para o hotel. Venha.

Passou-se o tempo. Por fim, chegou o dia do regresso à nossa aldeia. Fui ao quarto da vovó para lhe oferecer ajuda para os carregos. Tombou-me o peito ao assomar à porta: ela estava derramada no chão, onde sempre dormira, as tralhas espalhadas sem nenhum propósito de serem embaladas.

– Ainda não fez as malas, avó?
– Vou ficar, meu neto.
O silêncio me atropelou, um riso parvo pincelando-me o rosto.
– Vai ficar, como?
– Não se preocupe. Eu já conheço os cantos disto aqui.
– Vai ficar sozinha?
– Lá, na aldeia, ainda estou mais sozinha.

A sua certeza era tanta que o meu argumento murchou. O autocarro demorou a sair. Quando passamos pela esquina dos semáforos, não tive coragem de olhar para trás.

O Verão passou e as chuvadas já não espreitavam os céus quando recebi encomenda de Ndzima. Abri, sôfrego, o envelope. E entre os meus dedos uns dinheiros, velhos e encarquilhados, tombaram no chão da escola.

Um bilhete, que ela ditara para que alguém escrevesse, explicava: a avó me pagava uma passagem para que eu a visitasse na cidade. Senti luzes me acendendo o rosto ao ler as últimas linhas da carta: “… agora, neto, durmo aqui perto do semáforo. Faz-me bem aquelas luzinhas, amarelas, vermelhas. Quando fecho os olhos até parece que escuto a fogueira, crepitando em nosso velho quintal…”.



KEANE - SOMEWHERE ONLY WE KNOW


Somewhere Only We Know
Keane



Somewhere Only We Know


I walked across an empty land
I knew the pathway like the back of my hand
I felt the earth beneath my feet
Sat by the river and it made me complete

Oh, simple thing, where have you gone?
I'm getting old and I need something to rely on
So tell me when you're gonna let me in
I'm getting tired and I need somewhere to begin

I came across a fallen tree
I felt the branches of it looking at me
Is this the place we used to love?
Is this the place that I've been dreaming of?

Oh, simple thing, where have you gone
I'm getting old and I need something to rely on
So tell me when you're gonna let me in
I'm getting tired and I need somewhere to begin

And if you have a minute why don't we go
Talking about that somewhere only we know?
This could be the end of everything
So why don't we go
Somewhere only we know?
(Somewhere only we know)

Oh, simple thing, where have you gone?
I'm getting old and I need something to rely on
So tell me when you gonna let me in
I'm getting tired and I need somewhere to begin

And if you have a minute why don't we go
Talking about that somewhere only we know?
This could be the end of everything
So why don't we go
So why don't we go

This could be the end of everything
So why don't we go
Somewhere only we know?
Somewhere only we know?
Somewhere only we know?



Um Lugar Que Só Nós Conhecemos


Eu andei por uma terra desabitada
Eu conhecia o caminho como a palma da minha mão
Eu senti a terra sob meus pés
Sentei-me junto ao rio e ele me completou

Oh, simplicidade, aonde você foi?
Eu estou ficando velho e preciso de algo em que confiar
Então me diga quando você vai me deixar entrar
Eu estou ficando cansado e preciso de algum lugar para começar

Eu passei por cima de uma árvore caída
Eu senti seus galhos olhando para mim
É este o lugar que costumávamos amar?
Esse é o lugar com o qual tenho sonhado?

Oh, simplicidade, aonde você foi?
Eu estou ficando velho e preciso de algo em que confiar
Então me diga quando você vai me deixar entrar
Eu estou ficando cansado e preciso de algum lugar para começar

E, se você tiver um minuto por que nós não vamos
Falar sobre isso num lugar que só nós conhecemos?
Isso poderia ser o final de tudo
Então por que nós não vamos
Para algum lugar que só nós conhecemos?
Algum lugar que só nós conhecemos

Oh, simplicidade, aonde você foi?
Eu estou ficando velho e preciso de algo em que confiar
Então me diga quando você vai me deixar entrar
Eu estou ficando cansado e preciso de algum lugar para começar

Então, se você tiver um minuto, por que nós não vamos
Falar sobre isso num lugar que só nós conhecemos?
Isso poderia ser o final de tudo
Então porque nós não vamos
Então porque nós não vamos

Isso poderia ser o final de tudo
Então porque nós não vamos
Para algum lugar que só nós conhecemos?
Algum lugar que só nós conhecemos?
Algum lugar que só nós conhecemos?


MINHA CARA DE PREOCUPACAO


ELTON JOHN - NIKITA



Nikita
Elton John

Nikita
Hey Nikita, is it cold?
In your little corner of the world
You could roll around the globe
And never find a warmer soul to know

Oh, I saw you by the wall
Ten of your tin soldiers in a row
With eyes that looked like ice on fire
The human heart a captive in the snow

Oh Nikita you will never know, anything about my home
I'll never know how good it feels to hold you
Oh, Nikita I need you so
Oh Nikita is the other side of any given line in time
Counting ten tin soldiers in a row
Oh no, Nikita you'll never know

Do you ever dream of me
Do you ever see the letters that I write
When you look up through the wire
Nikita do you count the stars at night

And if there comes a time
Guns and gates no longer hold you in
And if you're free to make a choice
Just look towards the west and find a friend

Oh Nikita you will never know, anything about my home
I'll never know how good it feels to hold you
Oh no, Nikita you'll never know

Oh Nikita you will never know, never know anything about my home
I'll never know how good it feels to hold you
Nikita I need you so
Oh Nikita is the other side of any given line in time
Counting ten tin soldiers in a row
Oh no, Nikita you'll never know

Nikita
Counting ten tin soldiers in a row
Nikita
Counting ten tin soldiers in a row



Nikita


Ei Nikita, está fazendo frio?
Em seu cantinho do mundo?
Você pode rolar ao redor do globo
E nunca encontrar uma alma mais calorosa para conhecer

Oh, eu vi você ao lado do muro
Dez de seus soldadinhos de lata em uma fileira
Com olhos que pareciam gelo pegando fogo
O coração humano preso na neve

Oh, Nikita, você nunca saberá algo sobre meu lar
Eu nunca saberei como é bom te abraçar
Oh, Nikita, preciso tanto de você
Oh, Nikita, é o outro lado de qualquer vida dada no tempo
Contando dez soldadinhos de lata em uma fileira
Oh não, Nikita, você nunca saberá

Você já sonhou comigo?
Você sequer já viu as cartas que escrevo?
Quando você olha por cima da cerca
Nikita, você conta as estrelas à noite?

E se chegar a hora
E, armas e portões não poderão mais te prender
E se você estiver livre para escolher
Apenas olhe na direção do ocidente e encontre um amigo

Oh, Nikita você nunca saberá algo sobre meu lar
Eu nunca saberei como é bom te abraçar
Oh, não, Nikita você nunca saberá

Oh, Nikita você nunca saberá, nunca saberá algo sobre meu lar
Eu nunca saberei como é bom te abraçar
Nikita, preciso tanto de você
Oh, Nikita, é o outro lado, a qualquer momento
Contando dez soldadinhos de chumbo
Oh, não, Nikita, você nunca saberá

Nikita
Contando dez soldadinhos de chumbo enfileirados
Nikita
Contando dez soldadinhos de lata em uma fileira


MARIO FAUSTINO - CARPE DIEM



[Carpe Diem]

Que faço deste dia, que me adora?
Pegá-lo pela cauda, antes da hora
Vermelha de furtar-se ao meu festim?
Ou colocá-lo em música, em palavra,
Ou gravá-lo na pedra, que o sol lavra?
Força é guardá-lo em mim, que um dia assim
Tremenda noite deixa se ela ao leito
Da noite precedente o leva, feito
Escravo dessa fêmea a quem fugira
Por mim, por minha voz e minha lira.

(Mas já de sombras vejo que se cobre
Tão surdo ao sonho de ficar — tão nobre.
Já nele a luz da lua — a morte — mora,
De traição foi feito: vai-se embora.)

(Mário Faustino)

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