segunda-feira, 17 de agosto de 2020

WILSON GOMES - BELLUM OMNIUM CONTRA OMNES


Bellum omnium contra omnes* 
Por Wilson Gomes.

"A guerra de todos contra todos"

Está instalada a guerra identitária. E parece que a coisa, finalmente, se resolve assim: há quem lute pela superioridade dos seus (meu país, minha identidade, minha religião) e há quem milite por princípios (liberdade, justiça, igualdade). Pelo que vejo, as duas lutas não conseguem mais coincidir, como convergiam há 15, 20 anos. 
Quem hoje luta pela superioridade da sua identidade está mais próximo dos que lutavam e lutam pela superioridade de uma religião, de um Estado (America first, Brasil Acima de Tudo, Deutschland über alles. Über alles in der Welt) ou de uma etnia do que de quem luta por qualquer valor universal. Aliás, a premissa dos primeiros é que nada existe de universal, a ideia de universalidade é um engodo que permitiu que determinadas partes convencessem outras a aceitar os seus valores particulares e a sua dominação como se representassem o interesse geral. 
Para quem luta por identidades, coisas como pluralismo, tolerância, igualdade, liberdade, regra da maioria ou a ideia de que a argumentação substitui a força bruta não são valores. Lutam por superioridade contra qualquer um que se lhes oponha. Para um identitário, valores são a solidariedade tribal e os interesses da sua comundiade Bellum omnium contra omnes.
É por isso que recebi na cara que sou uma vergonha como negro defendendo uma mulher branca e rica. No episódio do cancelamento de Elika Takimoto, disseram que nunca viram um negro se prestar ao tão ridículo papel de defender uma "mulher asiática". Do ponto de vista de quem luta só por identidades, estão certos. Se sou negro ou eu defendo a tribo a todo custo ou sou traidor e desertor.
Do ponto de vista da luta por princípios, nem imaginei que precisasse defender Takimoto nem Schwarcz, só princípios. Por anos fui considerado gay pelos homofóbicos, porque para identitários você só luta pelos interesses da própria tribo: quem defende os direitos dos homossexuais só o faz porque quer os privilégios que essa luta acabaria por lhe conferir, pessoalmente. Do ponto de vista de quem não luta por princípios, você não enfrenta racistas, homofóbicos ou machistas porque suas convicções democráticas e liberais estão em jogo no racismo, na homofobia ou no machismo, mas porque você é gay e quer privilégios, é negro e quer vantagens, é feminista e quer poder. Em sentido inverso, você não pode discordar de premissas antidemocráticas que certos negros adotam, nem de táticas injustas de determinados feminismos (lembram do cancelamento de Antonio Prata?), nem de posicionamentos dos homossexuais sem que tenha uma agenda oculta racista, de macho escroto ou de homofóbico. Não há princípios, só luta por interesses e se você não está incondicionalmente comigo está incondicionalmente contra mim.
Quem luta por territórios, tribos, seitas, religiões, facções e outros pertencimentos parece ter-se tornado incapaz de entender quem só luta pelos princípios básicos da democracia. Querem retribalizar o mundo e os que lutam por princípios estão atrapalhando. Acho triste isso. Fazia mais sentido quando você podia lutar contra o racismo sem lutar contra os brancos, contra o machismo sem travar uma batalha contra os homens, contra a homofobia e transfobia sem declarar guerra ao homem hétero e cis. Você enfrentava a homofobia, o machismo e o racismo apenas em nome da justiça, por acreditar que sociedades igualitárias são melhores para todos, que diversidade e pluralismo constituem um mundo melhor.
Lembram quando se dizia que iríamos “precisar de todo mundo para banir do mundo a opressão”? Lembram do “homo sum: humani nihil a me alienum puto” (sou um ser humano e nada do que é humano me é estranho”)? Pois parece que, no fim do dia, era tudo um clichezinho humanista e hippie e quem tinha razão era o Homo homini lupus (o homem é o lobo do homem), de Plauto, que Hobbes imortalizou. É todo mundo contra todo mundo e salve-se quem puder. 
É para onde ruma uma sociedade baseada em escaramuças identitárias. E é para onde eu me recuso a ir.

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