EU AQUI ME DESPEÇO...
Pablo Neruda
01/12/2005
Pablo Neruda
01/12/2005
Eu
me despeço. Volto à minha casa, em meus sonhos. Volto à Patagônia,
aonde o vento golpeia os estábulos e salpica de frescor o Oceano. Sou
nada mais que um poeta: amo a todos, ando errante pelo mundo que amo. Em
minha pátria, prende-se mineiros e os soldados mandam mais que os
juízes. Entretanto, amo até mesmo as raízes de meu pequeno país frio. Se
tivesse que morrer mil vezes, ali quero morrer. Se tivesse que nascer
mil vezes, ali quero nascer. Perto da araucária selvagem, do vendaval
que vem do sul, das campanas recém compradas. Que ninguém pense em mim.
Pensemos em toda a terra, golpeando com amor a mesa. Não quero que volte
o sangue... a molhar o pão, os feijões, a música: quero que venha
comigo o mineiro, a criança, o advogado, o marinheiro, o fabricante de
bonecas. Que entremos no cinema e bebamos o vinho mais tinto. Eu não vim
para resolver nada. Vim aqui para cantar e quero que cantes comigo.
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